Em um mundo onde são apreciadas homenagens e declarações de amor, tudo que é exposto sendo o contrário disso é taxado de "recalque", "maluquice", "falta de amor próprio" ou daí pra baixo. As pessoas não gostam de ouvir verdades. As pessoas tem medo da exposição, de serem mal interpretadas, de não serem bem vistas e por isso não falam da dor, da perda, do término. Afinal, tem que manter a pose, né? Isso que importa. Mas ando vendo tanta, mais tanta coisa que eu considero estar errada, tanta hipocrisia, que eu gostaria de dividir aqui, até mesmo porque sei que quase ninguém vai ler.
Pra começar, queria falar sobre o uso de "falta de amor próprio". Fundamental, óbvio. Mas meu ponto aqui é outro: muitas vezes as pessoas falam isso simplesmente para deixarmos de nos esforçar por algo ou expressar nossos sentimentos, mas convenhamos: se todo mundo desistisse tão fácil assim, como muitos hoje desistem, diversos relacionamentos não teriam sequer começado. Não quero romantizar histórias adoecidas e nem relações abusivas, falo aqui de "conselhos" que ouvimos a balde porque "você precisa ter amor próprio", como por exemplo; não ligar porque o outro precisa ligar primeiro, não aceitar imediatamente algum convite para sair porque é importante fingir indiferença e não parecer que está muito interessado, não dizer "eu te amo" porque o outro precisa dizer primeiro, não pedir desculpas porque o outro tem que pedir primeiro, não dizer o que te incomoda porque o outro precisa se tocar sozinho... Pelo amor de Deus! Por que vocês criam tantos protocolos? Vocês deveriam começar a serem sinceros com o outro, se importar com o sentimento do outro ou simplesmente pararem de fingir que não se importam. Vocês deviam parar de mentir e de serem egoístas com o sentimento do outro. Deviam parar de joguinhos bestas.
Desde criança sou defensora do amor e levanto a bandeira da sinceridade. Não saberia explicar detalhadamente o que significa o posto de "defensora do amor", na verdade uma vez usei essa expressão e riram de mim, mas acho que em resumo posso dizer que sempre acreditei que pessoas podem ficar juntas a vida inteira, se conhecerem com sei lá 14, 16 ou 20 anos.. e verdadeiramente amarem o fato de não serem de mais ninguém (sem fofices!). Esses tipos de pensamentos como: "vai casar? nossa, mas você é tão nova!", "vai ficar com ele a vida inteira? mas tem tanta gente no mundo..", "po cara, se você não estivesse com fulana poderia ficar com fulana que é bem gostosa", "tem muita mulher no mundo pra se prender em uma só". Não, esse tipo de coisa nunca me representou. Claro que a vida é feita de momentos, mas como encontrar o amor e vive-lo com quem te ama poderia ser ruim?
Relacionamentos, declarações, casamentos e uniões sempre fizeram parte do que eu acredito fielmente. Claro que, quando a gente cresce e começa a estabelecer relacionamentos como adultos, perdemos aquela visão romantizada de que tudo deveria ser sempre um mar de rosas - até por que ser adulto já é bem difícil por si só, relacionar-se então... dificílimo. Penso que talvez quanto mais velhos nós ficamos mais difícil pode ser relacionar-se. Algumas vezes a gente tem tanta coisa dentro da gente, tanta bagagem, que é difícil dividirmos com alguém ou até mesmo percebermos que devemos abrir mão de algumas coisas para dar passos a frente em sincronia. Muitas vezes não nos damos conta do que nos prende, do que nos impede de dar espaço em nossa vida para outra pessoa, do que não nos permite viver uma nova história (e algumas vezes isso faz a gente perder alguém realmente especial).
Amar pode até ser fácil, mas relacionar-se ali no dia-a-dia, na labuta, fora das festinhas ou da roda de amigos, tem suas dificuldades. Compreender as diferenças do outro, as vontades, prioridades, planos, sonhos, ceder ao orgulho, pedir desculpas, aceitar críticas e até mesmo saber fazê-las... é difícil. E muitos desistem. Talvez por que lhes falte paciência. Talvez falte a visão de construção e de crescimento com alguém. Talvez falte saber como pode ser incrivelmente boa a sensação de ter alguém para dividir o caminho com você. Em um relacionamento, a gente pode querer jogar tudo pro alto em algum momento, sim. Não existe um manual de como ter o relacionamento perfeito. Mas olha, o que tem de gente hoje que na primeira dificuldade ou briga já desanima, não está no gibi. Hoje muita gente tem preguiça de tentar, de abrir mão de alguma vontade para ver o outro feliz, de organizar-se emocionalmente para receber alguém, de entender as necessidades do parceiro. Existe a preguiça do envolvimento emocional, de enxergar além do seu umbigo, e tem gente que até se auto sabota quando vê que está começando a se apaixonar ou que está "feliz demais".
Existem histórias que poderiam ser lindas, mas que são impedidas até mesmo de começar porque manter um relacionamento vivo dá trabalhinho sim. Precisa de esforço e cuidado. Em um relacionamento amor não é o suficiente. Apenas amar não sustenta uma relação. Essa é a verdade. Mas como não se esforçar por nada faz alguma coisa dar certo? E quanto a gente vai perder e quanto tempo vamos deixar passar por nem sequer tentar? Quantas palavras ainda vamos despejar da boca pra fora? Bauman defende a tese da sociedade líquida, diz que vivemos tempos onde nada é para durar, onde as relações estão cada vez mais superficiais. Nós sabemos disso. Mas eu juro que não consigo, não posso...
É, nem tudo é um mar de rosas, mas ao olharmos pro lado, diante dos obstáculos e diferenças, temos que ver, sentir e saber que temos alguém disposto a se esforçar para manter o relacionamento saudável e bonito. É o que todos deveríamos ter e não deveríamos aceitar nada menos do que isso.
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